Postado em sexta-feira, 19 de julho de 2024 09:29

O “Good Morning America”, um dos programas televisivos com maior audiência nos Estados Unidos, foi transmitido a partir de Portugal e poderá ajudar a atrair mais turistas norte-americanos, que, entre os turistas estrangeiros, já são a quarta maior fonte de receitas dos hotéis portugueses

O fenómeno do crescimento dos turistas dos Estados Unidos da América (EUA) em Portugal mantém-se em alta, e com tendência de aceleração em 2024. Este aumento surge em cima do recorde registado no ano passado, em que os norte-americanos se destacaram por ser o terceiro maior mercado externo nos hotéis nacionais em volume de hóspedes (a seguir aos espanhóis e aos britânicos), e totalizando 4,6 milhões de dormidas, numa subida de 33%, gerando receitas de 2,5 mil milhões de euros.

“De facto, está a ser um mercado muito importante para o país, e já o tinha sido em 2023”, frisa Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), lembrando que o peso cada vez mais expressivo de turistas norte-americanos no país se evidencia numa série de segmentos, desde os short breaks (escapadas de cidade) a grupos, passando por congressos e reuniões empresariais.

Há dias o “The Wall Street Journal” destacava o turismo norte-americano como um novo motor da economia europeia, num artigo cuja fotografia de abertura era uma esplanada no Castelo de São Jorge, em Lisboa.

E as estatísticas evidenciam que os turistas dos EUA estão a reforçar a posição enquanto maiores clientes dos hotéis em Lisboa. No primeiro trimestre do ano, os norte-americanos somaram cerca de 410 mil dormidas na capital portuguesa, consolidando o seu primeiro lugar e com um crescimento homólogo de 16,2%. Também os turistas do Canadá se destacaram em Lisboa no primeiro trimestre, com um crescimento de 26,2% para 105.513 dormidas.

A nível nacional, nos primeiros quatro meses de 2024, os hotéis em Portugal receberam 1,16 milhões de dormidas de turistas norte-americanos, que se posicionaram como o quarto maior mercado externo no país, a seguir ao Reino Unido, Alemanha e França, e com um crescimento homólogo de 16,6%.

Para este aumento, o presidente da AHP destaca o papel da TAP no reforço das rotas para os EUA, a par do seu programa “Stopover”, que permite ficar alguns dias, sem custos adicionais, em cidades que são ponto de escala entre voos. “Mas agora Lisboa e Porto tornaram-se destinos finais, contribuindo muito para a primeira posição destes turistas nos hotéis”, realça Bernardo Trindade.

“Não é por acaso que há cinco companhias aéreas com voos diretos para os Estados Unidos de Lisboa e do Porto”, nota Bernardo Trindade, referindo-se à TAP, SATA, United Airlines, American Airlines e Delta. “O sucesso é isto, e as companhias aéreas têm acompanhado esta evolução, é muita gente a vir dos Estados Unidos nestes aviões”.

As rotas dos EUA para Portugal estão a alargar-se a uma série de destinos, “e a TAP não está a voar só para Newark, mas para o aeroporto JFK, em Nova Iorque, além de cidades como Chicago ou São Francisco”, realça o presidente da associação hoteleira.

A nota negativa vai para as limitações do aeroporto de Lisboa, sem as quais poderia haver um número ainda maior de ligações aéreas. “Enquanto não tivermos obras na Portela, o aeroporto de Lisboa é um constrangimento”, salienta Bernardo Trindade.

Voos diretos dos EUA ao Algarve em 2025

Com expectativa, são esperados os voos diretos entre Faro e Newark anunciados pela United Airlines, rota que se previa ser inaugurada no último mês de maio, mas que acabou por ser adiada para maio do próximo ano.

“Mesmo sem os voos diretos para o Algarve, os turistas norte-americanos estão em grande crescimento na região, o que eu atribuo ao aumento de rotas dos EUA para Lisboa”, considera Jorge Beldade,diretor regional de operações da Minor Hotels, que conta no Algarve com sete hotéis (das marcas Tivoli e Anantara).

“Inclusive no nosso hotel Tivoli Carvoeiro, os hóspedes dos EUA já representam o segundo maior mercado, e os do Brasil o terceiro maior mercado, e isto não era comum no Algarve”, salienta o diretor de operações, adiantando que nos hotéis do grupo, Tivoli e Anantara, o peso de norte-americanos “é variável, de 25% a 30% em algumas unidades, 10% a 15% em outras, e este ano notamos um aumento”.

As ações de promoção do Turismo de Portugal nos Estados Unidos são enfatizadas pelos hoteleiros, e o presidente da AHP põe a tónica na “ótima perceção que os norte-americanos têm em relação a Portugal”.

Uma promoção considerada de peso foi a recente gravação em direto de Portugal - e em destinos diversos, como Algarve, Lisboa, Sintra e Porto - a 20 de junho, do “Good Morning America”, um dos programas televisivos com maior audiência nos Estados Unidos.

“Esta foi uma promoção brutal de Portugal nos Estados Unidos, e vai dar resultados rapidamente em termos de um crescimento deste mercado, que se espera também ser brutal”, antecipa Jorge Beldade.

Hotéis mudam para camas king size

O crescimento da procura de hóspedes que vêm dos Estados Unidos já está a levar os hotéis nacionais a ajustarem a sua oferta aos padrões deste mercado, em particular com a substituição de camas de tamanho habitual por king size.

“Os clientes americanos estão habituados a camas grandes, e em geral gostam de quartos grandes”, nota o diretor regional de operações do grupo com hotéis Tivoli e Anantara. “São requisitos que estamos a considerar, e até já a fazer essas alterações sempre que há projetos de remodelações ou de novas unidades”.

O presidente da Associação da Hotelaria de Portugal destaca que os turistas dos Estados Unidos “gastam mais, têm um elevado poder aquisitivo, e têm uma enorme experiência em marcar diretamente com os hotéis, o que tem um impacto importante na receita da tarifa final para os hoteleiros, já que é um processo sem intermediários”.

“Os americanos gastam mais que um cliente normal, fazem consumos maiores nos restaurantes ou nos bares, vêm mesmo para aproveitar e conhecer o destino”, reitera Jorge Beldade.

“São turistas que têm no seu DNA abertura para pagar preços mais altos”, constata também Pedro Ribeiro, diretor de marketing e vendas do grupo Vila Galé, referindo que “os americanos são dos poucos que vão fazendo reservas quando há ajustes de aumento de preços”.

Nos hotéis Vila Galé, o peso de hóspedes dos Estados Unidos está a ser notório “desde o Algarve, onde era raro, a Lisboa, onde é bastante expressivo, e até no Norte, Centro e Alentejo, onde é cada vez mais forte”, constata o diretor de vendas do grupo. Dois hotéis do grupo que aqui se destacam são o Alentejo Vineyards e o Douro Vineyards, por estarem associados ao enoturismo.

Norte-americanos geram 43% das receitas nas Pousadas de Portugal

Nos hotéis do grupo Pestana em Portugal, os hóspedes norte-americanos já representam o quarto principal mercado, e com peso mais expressivo nas unidades localizadas no Porto ou na região de Lisboa (incluindo o Pestana Cidadela Cascais).

Um exemplo destacado é o das Pousadas de Portugal, onde as receitas geradas pelos turistas dos EUA atingiram em 2023 um peso de 43%, e até maio este mercado evidenciou um crescimento superior a 30% em roomnights (quartos vendidos). A procura dos americanos concentrou-se sobretudo na Pousada Lisboa, Pousada Alfama, Pousada Porto – Rua das Flores, Pousada Convento Évora e Pousada Sagres.

Um dos trunfos do grupo Pestana neste campo é ter presença nos Estados Unidos, atualmente com quatro hotéis: dois em Nova Iorque (Pestana Park Avenue, Pestana CR7 Times Square), um em Miami (Pestana Miami South Beach) e mais recentemente, uma unidade em Orlando (Pestana Orlando Suites Lake Buena Vista).

“Através desses hotéis, é possível atrair turistas americanos para Portugal e incentivar viajantes portugueses a explorar os Estados Unidos”, realça fonte oficial do grupo.

No caso do grupo Porto Bay, “os norte-americanos são o primeiro mercado nos nossos hotéis em Lisboa e no Porto, com um reforço em 2024 e em linha com a tendência geral que se verifica nestas cidades”, adianta o administrador (e presidente da AHP) Bernardo Trindade.

Bernardo Trindade destaca ainda a enorme margem de crescimento para Portugal deste mercado, uma vez que “apenas 20% dos norte-americanos têm passaporte, e os restantes 80% não deixam de representar um forte potencial”.

 

by Conceição Antunes - Jornalista | EXPRESSO