Nelson Oliveira, CEO da TAAG, afirma que 2024 foi um “ano de estabilidade” e antecipa 2025 como o momento para “começar a crescer”, nomeadamente no número de passageiros. Em entrevista ao TNews, o responsável revela que está a ser estudado o regresso da rota Luanda-Porto, interrompida devido à Covid-19. Para o CEO, se a privatização da companhia aérea nacional de Angola avançar, “o serviço público deixa de existir”.
Começando por fazer um balanço de 2024, como classifica os resultados financeiros e o desempenho operacional da TAAG no ano passado?
2024 foi um ano que decidimos ser um ano de estabilidade. Foi um ano de recuperação da imagem e um ano de tornarmos o serviço mais próximo ao cliente.
A nível de número de voos realizados, realizámos mais voos que em 2023. No entanto, transportámos menos passageiros que em 2023, próprio da macroeconomia. Houve uma melhor on-time performance e conseguimos ter mais despacho de fiabilidade próximo da indústria porque cancelámos muito menos voos, que foi o objetivo de 2024. Em 2024, transportámos aproximadamente 1,25 milhões de passageiros, que representa um decréscimo de cerca de 50 mil [face a 2023].
A nível de faturação, tivemos muito melhor porque cancelámos alguns contratos que tínhamos de leasing com outras companhias, o que veio dar uma poupança à empresa. Em 2024, saímos do contrato com a Hi-Fly e começámos a realizar nós próprios os nossos voos, recuperámos algumas das nossas aeronaves e recuperámos o entretenimento de cabine em algumas aeronaves, o que nos deu um incentivo.
O resultado operacional foi positivo mais positivo do que em 2023, mas, a nível geral, não. Temos a herança do passado que afeta sempre o resultado final. Não foi aquilo que pretendíamos, mas desde que operacionalmente consigamos estar bem, o resto vai vir com o tempo.
Como estão a correr os primeiros meses deste ano?
Nestes primeiros meses, aquilo que pretendemos, no nosso plano de estratégia comercial, é aumentar o número de passageiros. Temos de melhorar a nossa conectividade e vamos tentar ultrapassar os números de 2024 e 2023. Vamos ter de ser melhores.
Então, 2024 foi um ano de estabilidade e 2025 será um ano de…
Começar a crescer. Este ano temos de começar a crescer no número de passageiros transportados e melhorar a nossa conectividade, não só a nível regional, mas a nível interno.
A nível internacional, estamos com conectividade de Lisboa-Maputo, Lisboa-Joanesburgo, Lisboa- Windhoek. Nos voos que saem de Lisboa, quer sejam da TAP, quer sejam de outras companhias, quem faz depois a ligação regional é a TAAG. Temos de adaptar o nosso horário para que os passageiros que cheguem por estas companhias também sejam servidos pela TAAG, para que possa haver mais entrega de passageiros para as companhias que só aterram em Luanda.
Estamos a tentar que um passageiro que saia de uma província para outra tenha o menos tempo possível de trânsito em Luanda. O que é que nos vai proporcionar isto? O novo aeroporto.
O novo Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto (AIAAN), em Luanda, começou a receber voos de passageiros no final do ano passado. Como está a correr o processo de transferência de voos?
Iniciámos a 10 de novembro as operações domésticas no AIAAN. Começámos em três fases de quatro. A primeira fase começou na província de Cabinda, por ser a província com mais voos a nível nacional. Fazemos quatro voos diários para Cabinda; iniciamos às 7h00 e terminamos às 23h00. O que é que isso veio proporcionar ao novo aeroporto? Que todo o ecossistema do aeroporto começasse a funcionar, quer a nível de migração, de polícia fiscal, do próprio ator do controlo, dos serviços de handling. Fez com que todo o aeroporto entrasse em movimento porque estes voos para Cabinda o obrigaram a começar a funcionar cedo e terminar à meia-noite.
Depois veio a segunda fase, em que aumentámos o número de destinos domésticos. Hoje já estamos com todo o serviço doméstico no novo aeroporto e já temos dois voos regionais para começar a abrir a parte internacional, que tem outro tratamento. Neste momento, estamos a ver, e será anunciado muito em breve, o que vamos fazer com os voos internacionais para começar a nova fase de transferência.
Que impacto está a sentir com a nova infraestrutura aeroportuária?
Todos aceitam o novo aeroporto porque é um serviço diferente, mais estável e moderno. O aeroporto já contempla tudo aquilo que se pode ver num aeroporto internacional. Vai oferecer uma nova imagem do que é o país.
O grande problema do [aeroporto] 4 de Fevereiro são os momentos de pico. Os passageiros chocam entre si, as companhias aéreas lutam por um espaço onde possam despachar os seus passageiros. O novo aeroporto, dada a dimensão que tem, isto já não se vê.
Mas há sempre a resistência à mudança, por ser um pouco mais distante, por levar mais tempo a chegar. Vamos ter de trabalhar muito na movimentação das pessoas. Hoje temos um comboio que sai de hora a hora da baixa da cidade para o novo aeroporto. Temos 200 e tal autocarros a circular na cidade só com destino ao novo aeroporto para que as pessoas possam ter um acesso mais rápido.
A privatização da TAAG poderá estar num horizonte próximo?
Não, neste momento ainda não há [novidades]. Os acionistas da TAAG são empresas do Estado, mas a empresa gere-se como uma sociedade anónima. A privatização não está ainda bem, bem, bem [definida]. Não temos um horizonte em que possa dizer que é em 2025 ou 2026. Os acionistas ainda estão a analisar e não será de certeza absoluta este ano, também o próximo… Deixo esta decisão para os acionistas de acordo com os números que apresentamos. São os números que definem se vamos para esse caminho ou não.
A TAAG tem um grande propósito: além de ser uma empresa comercial, tem também a finalidade do serviço público. Fazemos, por exemplo, voos para Cabinda que são subvencionados; o Estado paga uma parte e a TAG o resto. Se formos privatizados, esse serviço público deixa de existir. Isto ainda é uma função que o governo está analisando e por isso é que não aponta [uma data] tão facilmente.
Temos de cobrir a maior parte dos destinos domésticos, ainda que isto tenha um peso [para a empresa] porque nem todos os destinos domésticos são rentáveis. Mas, como temos a finalidade do serviço público, fazemos a cobertura.
Qual é a importância do mercado português para a TAAG?
No mercado português temos um grande adversário, que é a TAP. Dividimos o mercado português entre a TAAG e a TAP. Temos um mercado mais de serviço do que a TAP: fazemos dois voos diários, eles fazem um. Temos Lisboa como o nosso principal mercado, sendo que, mesmo por razões históricas, é o nosso mercado preferencial.
Quais são os destinos em Portugal que a TAAG está a considerar para futuras rotas?
Neste momento, estamos a fazer um estudo de viabilidade para ver se retomamos ao Porto [a partir de Luanda]. Porto sempre foi um serviço muito bom para a TAAG. Hoje está a ser feito semanalmente pela TAP e já estamos a lançar outra vez os estudos para ver se recuperamos esta rota.
[Luanda-Porto] foi uma ligação direta que fazíamos três vezes por semana. Quando o Covid veio, interrompeu esta ligação para o Porto. Agora, estamos a ver nem que seja uma ou duas frequências [semanais] porque o Porto, para além de ter a tradição do passageiro, é um mercado fértil na carga.
Temos estruturas montadas no Porto e os passageiros pedem [o regresso da rota]. Os agentes de viagens dizem que há solicitação de vendas. Estamos nos últimos toques finais para ver o que é que o negócio oferece.
Além de Portugal, quais são os outros mercados que têm mais peso na TAAG?
O mercado do Brasil e o da África do Sul são muito pesados; são mercados consolidados. Também Marrocos e São Tomé. Apesar de a TAP voar para lá, nós consolidamos mais São Tomé porque temos quase um voo diário e tem uma ligação histórica com Angola.
A TAAG está a avaliar outros destinos internacionais para uma expansão em breve?
Já estão dois destinos em estudo e o Business Case já está montado; só não lhe vou dizer porque é o segredo do negócio. São dois destinos — um para a Ásia e um para a Europa — e estamos também a ver para a América, mas é lógico que isto tudo depende da receptividade das autoridades da aviação civil e dos acordos de parceria que a Angola tem estado a assinar com estes países.
Qual é o plano de modernização e de expansão da frota da TAAG?
Vamos começar pela frota que temos. Temos cinco [Boeing] 777-300 e estamos a recuperar dois porque são os que mais vêm para Portugal. Um já tem o entretenimento recuperado e o outro deverá estar para breve, para podermos oferecer um produto igual ao que os outros oferecem: melhor cabine, melhor catering, melhor serviço de gestão.
Tínhamos umas aeronaves [Boeing] 777-200, em que a frota estava toda no chão, e uma já começou a voar. Os nossos [Boeing] 737 estão todos a voar. Neste momento, recebemos em primeiro lugar um [Airbus] A220-300, que está a servir o mercado regional, e vamos ter uma segunda aeronave.
Para este ano está agendado recebermos quatro do modelo Airbus A220 para modernizar a nossa frota regional, para incentivarmos o passageiro com um produto novo e moderno. Além disto, estas aeronaves consomem menos combustível e poluem menos, tanto no ruído como no dióxido de carbono.
A nível intercontinental, já recebemos o primeiro [Boeing] 787, que deverá iniciar a sua operação em breve. É lógico que os destinos preferidos são sempre Lisboa e São Paulo. Também está previsto, este ano, recebermos quatro aeronaves 787, razão pela qual vamos expandir os nossos destinos para a Ásia e para a Europa.
Vamos aumentar as frequências para a Ásia, para a Europa (que não seja Portugal) e América. Temos de dar utilidade à frota que temos.
Sente que a isenção dos vistos em Angola tem tido um impacto na procura de voos ou na atração de turistas internacionais?
Esta abertura de 98 países que ficaram isentos em Angola está a melhorar o turismo aos poucos, mas pelo menos a interrelação comercial está a abrir muito. Hoje todos os empresários querem ir a Angola para fazer o seu negócio. Quando um empresário vai, não vai sozinho; vai com uma equipa e está a trazer o aumento do número de passageiros que pretendem voar para Angola.
Com as nossas campanhas, vamos motivar para que haja mais turismo. Além do turismo internacional, com a facilidade dos vistos e outros incentivos que dão abertura ao país, também estamos a lançar campanhas internas para que o próprio angolano possa conhecer outras províncias, dentro dos descontos que a TAAG está a implementar. O mercado nacional também movimenta bastante. Temos colaborado muito com o Ministério do Turismo para que em conjunto possamos ter iniciativas conjuntas no sentido de motivar este turismo.
byTNEWS