Confesso-vos que sempre gostei muito dos jogos tradicionais de rua.
Tive a sorte de poder crescer num local e numa época onde com oito ou nove anos saía de casa e dizia “vou brincar com os meus amigos”, ao que a minha mãe sempre respondia “tens de estar em casa à hora de almoço”. Sim, eram tempos de verdadeira liberdade e que recordo hoje com alguma nostalgia.
Mas que tem isto a ver com Turismo, perguntar-se-á o leitor. Ao ser desafiado para escrever um artigo de opinião, numa altura em que nunca como agora toda a gente desatou a ter opiniões, lembrei-me do jogo “Macaquinho do Chinês”. Lembram-se dele? Estou certo de que pelo menos a malta da geração 70 o terá jogado por muitas vezes. Pois bem, no Macaquinho havia um eleito que se colocava junto a uma parede e de costas viradas para os restantes participantes, todos alinhados e a uma distância considerável. O macaquinho do chinês diz então as palavras mágicas que despertavam a adrenalina, “um, dois, três, macaquinho do chinês”. E nesse instante todos corriam em direção à parede. Mal o macaquinho terminava a frase virava-se de imediato e quem fosse apanhado a mexer-se teria de voltar para o ponto de partida. Ganhava o primeiro puto a chegar à parede, passando então a ser o macaquinho chinês.
Chegando a esta parte do texto o leitor já estará a desconfiar que as semanas de clausura provocadas já me estarão a toldar o raciocínio. Peço-lhe, pois, paciência e fé!
Pois bem, quando a 18 de março o Presidente da República decretou o estado de emergência, o que fizeram a maioria dos hotéis e empresas do setor do Turismo? Congelaram! Foi como se o macaquinho do chinês, entenda-se o Covid-19, contando rapidamente até três, se tivesse virado de frente para muitos hoteleiros (e não só) e daí não arredasse pé. Como consequência... todos congelaram.
Se é certo que o negócio verdadeiramente congelou não há razão alguma para que a comunicação tivesse seguido os mesmos passos. É desolador olhar para as redes sociais de muitas empresas do setor e verificar que o último post data da terceira semana de março ou que ainda há algumas que nos últimos dias desse mesmo mês colocavam posts a tentar vender quartos. Estes últimos então fazem-me recuar à cena do filme do Titanic onde a orquestra tocava enquanto o navio se afundava.
Esta era a altura de comunicar, de dizer presente, de mostrar proximidade, de revelar o lado mais humano do negócio. Não, não era altura para vender e então? Este era o momento de gerar empatia, reforçar os valores da sua marca, mostrar a sua relevância e o que torna o seu negócio (hotel, empresa de animação turística, restaurante, etc.) verdadeiramente diferente.
E as equipas? Bem, houve os que mandaram todos para casa em lay-off e remeteram-se ao silêncio e depois houve os que, mesmo forçados a colocar os seus colaboradores ao abrigo deste regime, continuaram a comunicar com as equipas. Com isto até encontraram soluções imaginativas só possíveis quando o espírito de equipa é forte.
Mas esta continua a ser altura para o fazer; para mudar o logotipo que há tanto deseja; renovar as suas apresentações; construir novo produto adequado aos tempos que se avizinham; de fazer um pequeno filme a explicar o que a sua empresa está a fazer para assegurar a segurança sanitária que o consumidor e sociedade lhe irá exigir; é tempo de olhar para outras ferramentas de CRM; de experimentar o sms marketing e de olhar para os mercados de proximidade.
O mundo mudou e, ou muito me engano, assim permanecerá durante os próximos anos. Vai continuar a tocar na orquestra do Titanic?
E por falar em orquestra recordei-me de outro jogo que se desenrolava ao som de música e que se chamava Jogo das Cadeiras. Fazia-se uma roda de cadeira e outra de miúdos, sendo que o número de cadeiras era sempre inferior ao das pessoas. Colocava-se a música a tocar e quando parasse, todos deviam correr e arranjar uma cadeira para se sentarem.
Quem não se conseguia sentar era eliminado, ganhando quem se sentasse na última cadeira. Temo bem que neste jogo de cadeiras muitas empresas e projetos venham a perder a cadeira.
Porque quando regressarmos à “nova normalidade” o consumidor irá saber distinguir as marcas, empresas e pessoas que não ficaram a ouvir música.