Na empresa onde trabalho, concluímos há apenas 4 meses atrás um intenso processo de recrutamento de novos talentos com a contratação de 180 novos colaboradores. Paralelamente, reintegramos 250 colaboradores que regressavam para uma nova temporada nos nossos navios-hotel. O processo de formação e capacitação destas novas equipas após o bem-sucedido “Open Day” foi intenso, e contou com 35 horas de formação teórica seguidas de 35 horas de formação prática, que depois de concluídas, deram lugar a 2 semanas de preparação efetiva para a abertura dos navios-hotel. No final, tínhamos conseguido com sucesso formar as 13 equipas residentes dos navios e os colaboradores de cais que lhes dariam apoio sempre que necessário. Estávamos prontos para começar um dos melhores anos de atividade de sempre, de acordo com as previsões de reservas.
Mas, a 18 de março o novo coronavírus “obriga” o país e todos nós a entrar em Estado de Emergência. Depois, todos sabemos o que aconteceu: as restrições à livre circulação de pessoas (entre muitas outras consequências), levaram ao fecho de fronteiras e o setor do turismo ficou sem clientes. Muitas empresas tentaram manter a sua atividade e postos de trabalho, mandando os colaboradores para Layoff; outras infelizmente, por muito que tentassem, acabaram por ser padecentes económicas do vírus.
Durante estes meses de “vida suspensa”, o mundo aprendeu muito sobre a pandemia de Covid-19. Adotamos novos procedimentos de higienização e desinfeção pessoal e de ambientes. Mudamos a forma de interagir com os outros, perdemos os sorrisos por entre as máscaras e sorrir com o olhar passou a ser imperativo. Deixamos de nos cumprimentar com um aperto de mão e passamos a cumprimentar-nos com o cotovelo. Os abraços ficaram suspensos, mas o sentimento de alegria ao rever familiares, amigos e colegas é enfatizado nas nossas palavras e gestos.
Três longos meses depois, em início de junho, começa-se cautelosamente a retomar a atividade. O setor do Turismo teve de se reinventar em tempo recorde. Aprendemos muito sobre SOP’s (Standard Operating Procedures) específicos para lidar com o Covid-19 e adotámos novas práticas e etiquetas sociais. Fizeram-se novas formações, promoveram-se reuniões de integração, implementaram-se novos standards operacionais com procedimentos melhorados que garantem a segurança de colaboradores e clientes. Adaptamo-nos às exigências necessárias para voltarmos a exercer o nosso trabalho, investimos o nosso tempo e reajustamos os nossos P&L de acordo com a realidade atual.
Mas, será que todos os profissionais envolvidos querem fazer parte desta retoma? Em conversa informal com amigos e colegas de profissão constatei que deparamos todos com um problema comum - a falta de noção sobre esta nova realidade.
Muitos dos colaboradores que chamamos para reintegrar as equipas hesitam entre ficar em casa em Layoff ou ter a oportunidade de voltar a exercer as suas funções. Alguns dos que regressam têm condutas que, se já eram reprováveis no “pré-covid”, hoje são absolutamente desenquadradas da realidade laboral em que vivemos.
Outros mantêm uma postura característica de tempos em que a mão de obra era escassa e onde a falta de comprometimento, dedicação e espírito de equipa eram consentidos por falta de opção.
Como profissional da área, mantenho-me atento a estas situações e procuro (in)formar os colaboradores com quem trabalho para um novo mundo que vai com toda a certeza necessitar de novas e melhores competências humanas e técnicas. Uma nova realidade que requer um esforço conjunto de empresas e colaboradores para que se possa dar continuidade a uma hotelaria de excelência como a que sempre praticamos em Portugal.