Em tempos, numa formação sobre Estratégia em que participei, ouvi um número que tinha tanto de surpreendente quanto de assustador: - em média, as empresas na Europa sobrevivem menos do que 7 anos.
Se pensarmos em quantas conhecemos centenárias ou com, pelo menos, uma bela meia-dúzia de décadas de vida facilmente percebemos quão perene é a linha da vida das empresas mais jovens.
Este era um rácio pré-covid, evidentemente; temo que o pós nos traga realidades bem mais desagradáveis mas, ao mesmo tempo, bastante mais previsíveis… E é disto que me proponho vir falar-vos, neste texto de tema livre que me foi solicitado, isto porque imagino que, tal como para mim, o grande desafio do momento para todas as empresas do sector turístico seja o da sobrevivência.
Em 2019, o grande responsável pelos números positivos que o território nacional apresentava era Turismo. De forma directa, contribuiu com 13% para o PIB Nacional e, tal como sempre acontece quando algo começa a correr bem que não seja cimento, começou a ser alvo de muitas discussões, sendo as maiores as relacionadas com a construção do novo aeroporto em Lisboa, a TAP e a pressão turística que, em alguns locais, se dizia sentir e, sobretudo, da voragem fiscal que grassa por todos os sectores da economia, com a excepção já referida, bem entendido.
Curiosamente, aparentemente só o Dr. António Costa Silva não percebeu a importância deste sector, tendo-lhe dedicado cerca de ½ página da sua Plano para a década, que é o que se chama agora às listas de mercearia dos governos, que nunca quererão perceber quão errado é condicionar ou direcionar as economias à conta de subsídios. O resultado, sabemo-lo bem, são os crescimentos nulos ou negativos que os 40 anos de democracia têm para nos demonstrar…
Aqui pela Região, também se discutiu TAP durante algum tempo. Discute-se ainda agora! Também se discutiram – muito pouco, infelizmente – grandes investimentos como os 100 milhões previstos para o alargamento do molhe da Pontinha e alguns do sector privado, aqui também pecando por escassa a reflexão sobre o aumento exponencialmente do peso do alojamento local, ao mesmo tempo que abriam grandes, enormes, unidades hoteleiras, inundando o mercado de novas camas.
Este é aliás um dos pontos que gostaria de deixar para reflexão: - qual o benefício dos anúncios, repetidos e reiterados, sobre os recordes de ocupação do destino? É mesmo esse o discurso que queremos passar a quem quer vender sossego, natureza, sustentabilidade e bem-estar?
Cá e lá, hoje, o tema predominante é o da pandemia mas vou centrar-me nas questões aqui do burgo. Atendendo à capacidade instalada que o sector da saúde tem para lidar com este surto, apesar de não ser técnico atrevo-me a dizer que a decisão de fecho do destino, na altura em que foi tomada, foi adequada e corajosa.
Nunca me passou pela cabeça, no entanto, que o resto da equação não estivesse devidamente pensada e acautelada. Quando mandamos fechar uma economia do tipo não soviético, há que perceber que as empresas ficam sem rendimentos, as pessoas ficam sem trabalho, as famílias ficam sem sustento. Pelo menos aquelas que não trabalham no sector público…
Foi isto no entanto que se passou. Por entre anúncios e promessas, a realidade das empresas deste sector é a seguinte:
- desde Abril, pagámos vencimentos de Abril e Maio, Seg. Social de Fevereiro, Março, Abril e Maio, IVA até Março, isto para além de dívidas a fornecedores que decorriam da actividade que entretanto nos mandaram encerrar;
- A 09 de Junho, recebemos o 1º pagamento relativo ao layoff e as linhas de crédito que generosamente nos concederam, que substituiu receita por dívida futura veio ainda depois, sendo que começam a vencer juros já este mês de Setembro;
- Continuámos, depois, a adiantar ordenados e a pagar Seg. Social sobre uma parte desse valor;
- Pagámos IMI, adicional de IMI (um escândalo!), IMT e todas as taxas que vêem escondidas nas nossas contas mensais;
- No meio disto tudo, tivemos de devolver a clientes dinheiro já recebido de estadias futuras equivalente a 4 meses de ordenados pagos por inteiro ou, se quiserem, a 60% do valor do empréstimo que nos aprovaram;
O melhor, no entanto, é o resultado de umas continhas que andei a fazer… Pagámos, em 2020, cerca de 40% mais de impostos (sem contabilizar taxas) do que o total do apoio que nos concederam pelo regime de layoff, a que aderimos desde Abril. Se quiserem fazer a comparação com o valor pago em 2019, falamos de menos de 15% desse montante.
O fundo perdido viria, se sobrevivêssemos até lá, daqui a uns 15 meses. A pagar juros, no entretanto. Posto isto, não consigo deixar de perguntar: - quem é que apoiou quem?
Solicita-se resposta atempada e urgente; se não, muitos de nós já não iremos ver o fogo de artifício deste ano…