Uma rede vale mais do que mil palavras
As redes fazem parte da história da humanidade, os seus desígnios vão sofrendo alterações, adaptam-se aos novos tempos, evoluem e ajustam-se às necessidades humanas. Ganham força em tempos de pós-guerra pois permitem a união de esforços para uma reconstrução conjunta, mas sobretudo para atingir objectivos comuns.
A primeira vez que se usa a palavra ‘rede’ é para designar uma armadilha para capturar pássaros, formada por um conjunto de linhas interligadas que dão origem a um conjunto de nós. No século XIX, o termo tornou-se mais complexo, denominando os conjuntos de pontos com mútua comunicação. Em pleno novo milénio, Castells define rede como um conjunto de nós entrelaçados, conceito amplo que permite ser utilizado em diversas áreas do conhecimento. As redes aumentam assim, a interação dos membros e promovem a redução de espaço e de tempo nas inter-relações dos seus atores, como fatores estratégicos e facilitadores da competitividade das organizações do século XXI. Em muitas situações, as redes permitem rentabilizar recursos e obter economias de escala.
Hoje fala-se muito de redes sociais e da influência do Facebook, do Instagram e do Twitter, apenas para citar algumas. Parece que antes do aparecimento destas plataformas não existiam redes sociais. Mas as redes sociais existem desde sempre e todos nós fazemos parte de várias. Cada um de nós, enquanto individuo faz parte de uma rede familiar, uma rede de amigos, a rede da escola e a rede do trabalho, do desporto, de clubes, associações, entre outras. Na verdade, todos fazemos partes de várias redes em simultâneo e por isso desempenhamos papeis sociais distintos. A inovação das redes citadas é serem constituídas no espaço virtual, pois permitem interação sem contacto físico. O Facebook agora desconsiderado pelas gerações mais novas, teve um papel social importante, permitindo o reencontro virtual de várias pessoas que não se viam há anos. Sobretudo reduziu a solidão de pessoas com mais idade, permitindo o contacto com familiares e amigos que se encontravam distantes. Permitiu ainda que através de jogos como o Farm Ville, as pessoas desenvolvessem o gosto por aprender as tecnologias e, desta forma poderem ‘regar os morangos’ ou ‘dar comida às galinhas’.
O sector turístico é composto por múltiplas redes. Redes de transportes, consórcios de agências de viagens, de cadeias hoteleiras, cujo modelo pode ser integrado (a própria cadeia é proprietária do seu nome, da sua marca e na maioria dos casos, dos edifícios onde os hotéis estão situados e decisora soberana na estratégia da cadeia; exemplos são o Grupo Pestana ou o Grupo Vila Galé. As cadeias hoteleiras podem ainda ser voluntárias ou sofbrands, trata-se de um modelo de cooperação que visa melhorar a comercialização e a competitividade dos hotéis, tornando-se uma opção atraente para os pequenos hotéis independentes. Estas redes dispõem de uma marca e de recursos em que oferecem instrumentos de marketing e de vendas aos membros, sem que os hotéis percam a sua independência e liberdade de gestão. Como exemplo, na hotelaria, temos o caso da Leading Hotel of the World (EUA); Design Hotels (Alemanha); Relais & Châteaux (França); Small Luxury Hotels (Reino Unido); Great hotels of World (que era inglesa, mas foi comprada pela Guest Centric e, portanto, agora é Portuguesa). Associações de agências de viagens, de hotéis, de transportes, rent-a-Car e atracções turísticas são redes, onde os membros têm acesso a informação privilegiada, a formação e outras regalias.
A Virtuoso é um dos mais representativos consórcios de agências de viagens de luxo. A entrada nesta rede ´virtuosa´ é complexa, mas vantajosa, segundo os seus membros. Outro exemplo de redes relacionadas com a hospitalidade e a restauração é a rede de restaurantes de estrelas Michelin que hoje impactam naqueles que apreciam fine dining, as dinâmicas dos Chefs e toda a estrutura que rodeia este negócio. Mas, ainda no sector do Turismo existem as redes colaborativas. Trata-se de redes em que os membros colaboram no seu desenvolvimento e o exemplo mais icónico é o AirBnb. Baseada no conceito de ‘sharing economy’, o seu modus operandi revolucionou a relação entre os anfitriões e os hóspedes que se baseia na partilha de recursos. O AirBnB inovou na forma de reservar alojamento e sobretudo, beneficia da propagação de opiniões e comentários espontâneos de todos os que colaboram neste circuito e alimentam a rede a partir de múltiplos fluxos. O feito de quem um dia dormiu no sofá de um amigo e a partir daqui montou um negócio que revolucionou o alojamento e nos faz questionar sobre os limites da imaginação.
E termino a contar uma história sobre uma rede que creio ser conhecida de todos. Há muitos anos atrás estive no Funchal a dar formação em marketing, num curso de graduação hoteleira. Tive a sorte de conhecer directores de hotéis extraordinários, muitos dos quais ainda hoje, mantenho contacto. Recordo-me de um director em particular que veio ter comigo a perguntar a opinião sobre um projecto de redes que envolvia directores hoteleiros. O objectivo era partilhar conhecimento, experiência, informação sobre oportunidades de trabalho e de formação entre tantos outros serviços. Passaram muitos anos e a rede que naquela altura me pareceu um projecto muito promissor é hoje um sucesso. E a prova está aqui, - Parabéns à REDE-T e ao seu mentor - um exemplo de um projecto português sobre hotéis e hoteleiros e que partiu da vontade de uma pessoa de criar uma rede. E partilhar....