Hoteleiro por castigo ou por missão?

Na verdade, vivemos tempos diferentes em tanto e ao mesmo tempo iguais a outros tempos passados.

Filipe Beja Simões

Na verdade, vivemos tempos diferentes em tanto e ao mesmo tempo iguais a outros tempos passados.
Tudo mudou, na forma, na jornada, nas vontades, nas escolhas, na concorrência, na forma de construir produtos, na forma de orçamentos, hoje a indústria do Turismo não é a mesma do séc. XX, para não irmos muito longe.
Já nos dizia o grande Fernando Pessoa na sua Mensagem (mens/agit/ molem ,1934) “nascer Português por castigo ou por missão” ! Não é novo o Karma Lusitano onde o esforço, a sabedoria e sobretudo a vontade nos fazem sobressair nos tempos mais difíceis. É essa a nossa resiliência diria do nosso ADN.

A hotelaria mundial atravessa hoje um tempo novo, com novos desafios de recursos e talento, de motivação, de captação, mas sobretudo de vontade em aprender, em superar aquilo que já sabemos. Nunca o caminho foi fácil, não seria difícil lembrar as alterações dos modelos de produção de massa, mesmo com todo o glamour, até à "hiperpersonalização" que todos procuramos, em fazer diferente e único para proporcionar a tão desejada experiência aos nossos queridos hóspedes.

A procura alterou-se não pela sazonalidade apenas, mas por muitas outras variáveis como o valor, que se tornou umas vezes sensível outras nem por isso, desde que haja uma excelente foto nas redes sociais (o desejo sempre foi um ótimo canal de vendas), mas na verdade o que mudou drasticamente foi a reserva last minute que exige prontidão das equipas e das instalações para o que der e vier.

As equipas hoje para além de talento, de valores de hospitalidade do passado e do futuro, necessitam estar muito unidas no propósito - trabalho em equipa - por forma a alcançar todos os objetivos propostos - Serviço, Sustentabilidade, RH, Budget -

O desafio é diário onde todos somos convocados a dar o melhor de nós e a esperar que o compromisso de todos seja no mesmo sentido. Apenas com os valores da hospitalidade, do servir bem - não tendo de ser serviçais -, da vontade em satisfazer as necessidades dos nossos hóspedes podemos dizer que teremos um futuro com esperança.

A formação, mas sobretudo o papel de divulgação da nossa profissão é essencial para captar e atrair novos colegas para a hotelaria, vejamos:

Se todos os dias denegrimos e apenas falarmos do que não corre bem, dos horários, da falta de formação técnica, da falta de fim-de-semana com amigos e férias de agosto, estamos precisamente a facilitar o caminho aos que defendem um turismo de massas, massificado em toda a sua plenitude onde não há distinção alguma entre estar num parque de diversões, numa praia onde não cabe a toalha ou na fila do teleférico a bater com os skis uns dos outros. O Turismo e em particular a Hotelaria não se resumem a isso. Nunca foi e estou esperançado que nunca será.

Os tempos que vivemos são desafiantes para as operações que funcionam 24/24 e 7/7, pois a velocidade dos acontecimentos é talvez o fator que mais nos faz alterar comportamentos. Exigem-se respostas imediatas, soluções à medida, e resultados sempre acima do excelente, performances de alta rentabilidade e um olhar e ação consciente sobre o nosso Planeta na utilização dos recursos ao nosso dispor.

O desafio nunca foi tão ambicioso, tão multifacetado, imaginem que temos de introduzir e aplicar temas do futuro que são já presente, a Inteligência Artificial, o ESG, a Segmentação de Clientes até ao ínfimo detalhe, a polivalência de funções (que permite hoje ascensão funcional e novas competências como nunca antes visto). Trabalhar em hotelaria é servir no melhor sentido da palavra, colocar-se ao serviço de alguém que nos trata com respeito, educação é sem dúvida muito recompensador! Qual a atividade em que podemos ser lembrados pelo que somos, o que fizemos e podermos mesmo ser um dos pontos altos da experiência? Só neste sector vibrante onde tudo é novo, sempre uma descoberta, onde lidamos com pessoas e para pessoas.

Por motivos profissionais, entrevisto muitos jovens que pretendem um emprego, um trabalho ou apenas uma ocupação (!). Procuro sempre que me digam em que são os melhores, em que atividade se distinguem, qual a sua Arte. Muitas vezes dizem "Nunca me perguntaram isso". Curioso!
Os talentos estão aí, andam aí, sempre andaram, mas temos que lhes dizer que ser hoteleiro não é castigo. É uma Missão, certamente não para todos, mas temos de dizer o quão recompensador é. Só assim teremos mais futuro do que este presente.

Cá vos esperamos. Aproveitem a oportunidade.

Filipe Beja Simões
Gestor Hoteleiro