Hotelaria em Portugal: O Desafio de Atrair, Reter e Inspirar Talentos para um Futuro de Excelência

O setor da hotelaria tem sido historicamente um pilar fundamental da economia em Portugal, impulsionado pelo turismo que cresce de forma consistente.

Madalena Mauricio

O setor da hotelaria tem sido historicamente um pilar fundamental da economia em Portugal, impulsionado pelo turismo que cresce de forma consistente. Contudo, o sucesso de qualquer hotel, independentemente da sua localização, depende diretamente das pessoas que o compõem. A construção de equipas fortes é, por isso, um elemento-chave para alcançar a excelência. Mas num mercado em constante transformação, onde os desafios da retenção e atração de talentos são cada vez mais evidentes, é crucial refletirmos sobre a competitividade do setor.

Será que somos suficientemente competitivos? Oferecemos condições capazes de rivalizar com outras indústrias modernizadas, que muitas vezes apresentam propostas mais apelativas em termos financeiros e menos exigentes a nível físico e de horas trabalhadas? Estas questões tornam-se ainda mais pertinentes numa época em que os jovens talentos, embora atraídos pela magia da hospitalidade, ponderam seriamente as suas opções de carreira.

O Papel das Condições de Trabalho

Uma das questões centrais é a qualidade das condições oferecidas aos nossos colaboradores, começando pelos salários. A verdade é que a hotelaria, em geral, não paga bem, mas deveria. Se queremos atrair e reter os melhores talentos, temos de oferecer salários competitivos que reconheçam o valor do trabalho árduo e exigente que este setor requer.

Somos responsáveis por tentar mudar esta realidade. A hotelaria precisa de assumir um compromisso claro de melhorar as condições salariais e, consequentemente, a qualidade de vida dos seus profissionais. Isto não é apenas uma questão de justiça, mas também uma estratégia essencial para assegurar que o setor se mantém relevante e atrativo perante indústrias concorrentes.

Para além disso, a oferta de benefícios adicionais, como planos de saúde, incentivos de desempenho, formação contínua e políticas de flexibilidade, pode ajudar a reforçar a perceção de valor e atratividade do setor.

Empowerment e Pertencimento

Na minha opinião, é fundamental que os colaboradores sintam que pertencem, que são parte integrante do sucesso do hotel. Eles precisam sentir que têm voz, que podem e são responsáveis por implementar ideias, melhorias e soluções. O empowerment das equipas e a delegação de poder de decisão são essenciais para que os profissionais se sintam motivados e valorizados.

Mais do que executar tarefas, os colaboradores devem ser incentivados a pensar, a criar, a contribuir com a sua visão e a verem os seus esforços reconhecidos. Este sentido de pertença, aliado ao reconhecimento, é o que transforma equipas comuns em equipas extraordinárias.

O Desafio dos Jovens Talentos: Velocidade e Propósito

Os jovens talentos de hoje trazem consigo uma nova mentalidade. Eles procuram progressão rápida, desenvolvimento eficaz e recompensas tangíveis num curto espaço de tempo. Não têm tempo nem disposição para esperar pacientemente anos por reconhecimento ou por um avanço na carreira. Este facto apresenta um desafio ainda maior para nós: manter estes talentos motivados, comprometidos e com vontade de permanecer connosco, sem que sintam a necessidade constante de procurar algo mais.

Nós, como líderes e gestores, somos os responsáveis por criar estas condições. É fundamental oferecer-lhes confiança, mostrar que acreditamos no seu potencial e proporcionar oportunidades reais de desenvolvimento. Este desenvolvimento precisa de ser rápido, eficaz e alinhado com os seus objetivos pessoais e profissionais. Como disse Bill Marriott: "Success is never final." Este é um lembrete de que o sucesso, tanto dos nossos negócios quanto das nossas equipas, é um processo contínuo que exige adaptação e inovação constantes.

Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal

Não menos importante, é preciso oferecer condições que permitam aos profissionais usufruir tanto dos seus dias de trabalho quanto do tempo fora dele. É crucial criar uma cultura de equilíbrio, onde as pessoas se sintam bem, plenas e em harmonia entre a vida profissional e pessoal. Quando um colaborador sente que está equilibrado, tanto a nível físico quanto emocional, ele estará mais disposto e capaz de entregar o seu melhor.

Por que os Jovens Escolhem Ficar?

A pergunta final é: o que faz com que jovens talentos optem por ficar connosco em Portugal e na hotelaria? A resposta reside numa combinação de fatores essenciais que vão além da paixão pela hospitalidade.

Os jovens de hoje procuram ambientes de trabalho que valorizem as pessoas, com reconhecimento constante e genuíno pelo esforço e dedicação. Querem rápida progressão na carreira, visibilidade no setor e a oportunidade de se conectarem com líderes e pessoas de referência que possam inspirar e orientar os seus percursos. Também desejam condições que incluam salários competitivos, que reflitam o seu valor e esforço, e uma direção clara para um futuro promissor.

Além disso, é crucial desconstruir a ideia de que só se chega ao topo com muitos anos de experiência acumulada ou apenas após se ter começado do zero e aprendido todos os detalhes operacionais. Os jovens talentos de hoje não estão dispostos a esperar tanto. Querem oportunidades de crescimento desde o início, acreditando que podem contribuir de forma significativa desde cedo.

As organizações devem usar os colaboradores mais experientes como mentores e referências impulsionadoras, mas reconhecendo que todos, independentemente do ponto da sua carreira, têm algo a acrescentar para o sucesso coletivo. É necessário criar uma cultura que abra espaço para todos crescerem e contribuírem, garantindo que os jovens se sintam ouvidos, motivados e parte do futuro da organização.

O que querem os jovens hoje em dia? Querem mais do que estabilidade financeira. Procuram desafios que os motivem, um ambiente dinâmico que promova o trabalho em equipa, propósito no que fazem e a sensação de que o seu contributo é importante. Ambicionam liderar projetos, serem desafiados a ultrapassar limites e fazer parte de organizações que valorizem a inovação e o progresso.

Se o setor da hotelaria conseguir oferecer esta combinação de reconhecimento, progressão, conexão, desafio e recompensa, estará a criar um ambiente onde os jovens não só escolherão ficar, mas também prosperar e elevar o setor para novos patamares.

Uma Reflexão Pessoal

Eu própria escolhi fazer carreira internacional no início da minha jornada profissional. Desde os estágios até à minha última posição antes de regressar a Portugal, construí um percurso baseado nos princípios em que acredito. Comecei em Londres, em 2015, como Finance Assistant, e em maio de 2020 regressava a Portugal como Diretora Financeira. Durante este período, trabalhei muito, vivi para o trabalho, mas tive o privilégio de contar com o apoio de uma marca de referência, a Marriott International, que oferecia não apenas as ferramentas certas, mas também uma rede estratégica e uma cultura que valoriza o desenvolvimento de líderes.
Muitos líderes dedicaram o seu tempo ao meu crescimento, acreditaram em mim e mostraram-me um mundo de possibilidades. No estrangeiro, há mais oportunidades devido à elevada rotatividade e à capacidade de recrutar com base em soft skills, apostando mais na criação de líderes do que na avaliação puramente técnica. Este enfoque no potencial humano permitiu-me crescer rapidamente.

Regressei a Portugal porque queria ocupar uma posição onde pudesse fazer a diferença, trazendo comigo as práticas e princípios que experienciei no estrangeiro. Acredito que é possível criar um ambiente em que os colaboradores se sintam motivados, desafiados e valorizados, onde a ambição e o trabalho em equipa sejam pilares de sucesso. Queremos líderes e equipas que estejam prontos para construir o futuro da hotelaria, com inovação, empatia e compromisso. Afinal, o sistema de ontem pode já não ser o sistema de hoje, e é a nossa capacidade de adaptação que nos permitirá liderar e inspirar as próximas gerações.